terça-feira, agosto 15, 2006

Salmo

Os cedros do Líbano

Juntos aos Cedros do Líbano
Nos sentamos e choramos
Com saudades dos tempos de paz;
E gritamos ao nosso Deus
“Senhor, onde estais ?”

Como Agar no deserto errante,
Desesperados nós clamamos;
Perguntando ao nosso Deus:
“Por que nos castiga tanto?”

Somos filhos de Ismael
“Ouve ó Deus nosso pranto”;
Como outrora Israel levanta-se
E fugimos só com a noite como manto.

Favorece-nos outra vez ó Deus
Estabelece novamente nossa paz
Ai, então, ouvirão cantos e salmos
Ao invés de soluços e ais.


PS Na Bíblia e na tradição mulçumana os árabes descendem de Ismael, filho de Abraão e Ágar. Ele e sua mãe foram expulsos da Casa de Abraão para garantir a herança de Isaac (de quem surgiu Israel). No deserto eles quase morrem, mas Deus os ouve e acolhe numa nova terra. Ismael significa "Deus ouve" (do hebraico Ismh'el).

sexta-feira, agosto 04, 2006

Zuzu Angel

Hoje fui ao cinema ver Zuzu Angel. Na minha modesta opinião é o melhor filme brasileiro do ano. Lógico que é um filme com uma estética de minissérie da Globo, com atores de novela e trilha de novela, mas não deixa de ser um bom filme. Não é um dramalhão como Olga, ou essas comédias românticas com ares de novela das sete, nem faz parte dessa nova estética do cinema brasileiro da pobreza glamurizada.
Esse é o filme sobre uma mãe que perde o filho para a ditadura militar (apesar de alguns ainda insistem em dizer que não foi violenta, ou que ela foi “redentora”) e passa a encará-la de frente para reaver o corpo do filho morto. Zuzu não pára, ela é parada pela ditadura que a mata depois que ela sai de um viaduto, o hoje conhecido “Viaduto Zuzu Angel”.
Vendo este filme eu consegui entender toda a profundidade do meu verso de música preferido; que é do Chico Buarque, que foi um grande amigo de Zuzu e para quem ela entregou uma carta dizendo que se morresse a culpa era dos militares. O verso é tirado da música “Pedaço de mim” e diz: “A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. A melhor definição desta palavrinha (saudade) que só existe na língua portuguesa. Na verdade penso que só uma cultura como a portuguesa, que era de navegadores intrépidos, poderia criar uma palavra para descrever este sentimento. Como diz o poeta “Ó mar salgado quanto do teu sal? São lágrimas de Portugal?”. Só uma nação que se entregou ao mar sabe o que é sentir saudade. Só uma mãe que perde um filho sabe o que é sentir saudade.

Angélica
(Miltinho e Chico Buarque)

Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele não pode mais cantar


P.S . música escrita para Zuzu Angel