domingo, dezembro 31, 2006

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo

Se paro um instante
E olho ao meu redor
Vejo bárbaros ululantes
Destruindo o sonho de um mundo
Melhor.

Ou nossa esperança se renova,
Ou nos entregamos de vez;
Pois sonhar só estorva
Quem optou pela cupidez.

Igualdade, Liberdade, Fraternidade;
O Ideal de um mundo justo;
Pilares da vida corroídos pela maldade,
Mas que resistem a muito custo.

Parafraseando o santo inglês
“Criamos os ladrões para depois enforcá-los”
podíamos ser melhores, ao invés,
quando tentamos salvá-los.

E no patíbulo pendurado,
Saddam é o símbolo do que vem.
O “olho por olho” foi restaurado;
A justiça tombou; o mal venceu o bem.

Morte, guerra, fome, destruição, pobreza
Não são os votos de ninguém para o novo ano;
Mas são as nossas únicas certezas
Para 2007, que ao invés de venturoso
Será totalmente insano.



Para ano que vem teremos novidades no Inhame Filosofante. Felicidades a todos.
See you!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

TPN, ou uma crônica de Natal.

Uma semana antes

Ela acordou meio estranha. Era algo meio físico, meio psicológico. Estava com dor nas pernas e a boca seca, por conta da ressaca, causada pelo excesso de caipirinhas de bacardi que havia tomado na festa de fim de ano da repartição onde trabalhava. Sentia um comichão lá no fundo. Não sabia se era por conta dos pernilongos desta época do ano, ou uma inquieta vontade de apertar uns pescoços. Levantou-se e olhou-se no espelho. Realmente gostou do que viu. Foi para cozinha e viu um stick amarelo na geladeira lembrando-a que sua mãe queria fazer as compras de natal dali a dois dias. “Merda”, pensou ela.

No trabalho ninguém estava numa situação boa, pois todos tinham abusado da bebida e da comida. O pior mesmo eram os comentários sobre a festa. A maioria maldosos e alguns sobre ela. “Bosta, será que eu fiz algo que não lembro!?”. Ela achava que não, mas sabia que os sorrisos e tapinhas nas costas eram apenas teatro de um povo com aspirações de civilidade. Sorte sua que era seu último dia e que só voltaria na semana seguinte ao Ano Novo.

Cinco dias antes

Dia das compras. Não suportava o jeito com que sua mãe a tratava. Ela morava sozinha e era independete finaceiramente, mas sua mãe sempre a tratava como uma adolescente que precisa de vigilância. “Você não anda bebendo demais?!” Perguntava sua mãe sempre que se viam. Mas ultimamente a pergunta que mais a incomodava e que ela tentava evitar a todo custo: “Não está na hora de arranjar um namorado!?”. “Mas que droga”, pensava ela, “sim está na hora, mas não aparece nada decente para mim! Só aquele mala do meu ex que não larga do meu pé. Que merda!”.

Após horas rodando pelos shoppings e lojas da cidade ela conseguiu o que queria. Lógico que teve que disputar a tapas, literalmente, algumas peças. Mas nada que um sorriso e um chute certeiro na canela não consigam. Voltou para casa com dois vestidos, três sandálias, umas blusinhas, uma tremenda dor nas costas e com a vontade de matar alguém aumentando. Suas cachorras vieram fazer festa quando ela chegou e quase levaram um chute também. Fez um chá e foi dormir.

Três dias antes

Sua irritação estava batendo records. Não havia matado ninguém ainda, mas, por segurança, mandou suas cachorras para passar uma temporada num hotel para cachorros. O seu irmão ligou pedindo dinheiro para comprar um presente para a nova namorada. “Além de tudo tenho que finaciar este vagabundo e suas vadias.” Acabou descobrindo que tinha comprado um vestido maravilhoso para o Ano Novo, mas não sabia nem onde ia passar a virada.

Marcou cinema com um amigo. No meio de milhares de filmes sobre natais em família e crianças perdidas em casa ou aeroportos acharam um filme bom. Apesar da lotação do shopping, já que esta maravilhosa cidade não tem mais cinemas de rua, não demoraram mais do que meia hora para achar um lugar para estacionar. Viram o filme e, no cinema, dois mudos sentados na mesma fileira não pararam de falar. "Meu Deus!!!! As pessoas que você nunca imaginaria que incomodassem não param de se comunicar e de balançar todo o banco"; depois foram beber algo. “Mas que merda. Além de ter que sair com amigo por falta de namorado, este idiota não tira o olho do meu decote.” Ele a deixou em casa. “Agora deve estar olhando minha bunda”, pensou ela. “humft”. Tomou alguns calmantes foi dormir.

Véspera de natal.

Só de pensar que teria que passar o natal com os parentes na casa de sua avó, ela queria sumir. Infelizmente não podia, porque, pior do que o natal na casa da sua vó, era ter que agüentar sua mãe e os parentes questinando-a o ano inteiro sobre o porquê de não ter ido. Pelo sim, pelo não cabou indo. Afinal não ia durar muito. Depois da troca dos presentes e da revelação do amigo secreto (que bem que podia ser inimigo secreto) eles foram ceiar. Na mesa ela teve a infelicidade de sentar entre duas das suas tias “prediletas”. “Ai como você está magra!” “Onde está o namorado” “Você está ganhando bem, né!?” e mais uma rajada de perguntas. Ela só respondia com gestos de cabeça, ou com simples “sim” “não”, mas na sua cabeça pensava em mil respostas ácidas e sarcásticas; e só não as usava em consideração a sua vó, que no momento lhe oferecia outra coxa de peru. Quando estava tudo acabando e ela permitia-se ficar quase alegre veio a intimação: “você vem almoçar aqui amanhão, né!?”. Respondeu com um grunhido “humpzchit”. É podia ser pior.

Natal

Acordou com a cabeça latejando. Olhou-se no espelho e não gostou nada do que viu. Vestiu-se e foi, novamente, para casa da sua vó. No caminho recitava o mantra: “não vou matar ninguém. Não vou matar ninguém”. Chegando lá teve que comprimentar a todos novamente e encarar os mesmos sorrisos falsos. Pode perceber que suas tias cochichavam sobre ela: “Viu só, não se mistura.” “é uma metida mesmo”. Estrangulou um guardanapo para não fazer o mesmo com algum parente. Seus primos com os respectivos acompanhantes não melhoravam a situação. Almoçaram churrasco com a ceia requentada. Depois do almoço o seu humor estava melhor. “Pronto: acabou!” permitiu-se até um sorriso, que logo se extingüiu: “Você vem passar o Ano Novo com a gente, não vem!?” Um grito de pavor morreu em seus lábios. Nem respondeu. Empurrou as duas tias que estavam na porta, chutou um primo que resolveu namorar no portão, pegou as chaves do carro e fugiu sem olhar para trás. Quando estava quase chegando numa praia maravilhosa ela pensou: “Que merda! Deveria ter feito isto antes”.

A todos os leitores do meu blog um feliz natal e nos vemos novamente ano que vem. Se eu não voltar é que eu quebrei a banca de algum cassino argentino e estou viajando por aí, ou fui morto por este mesmo motivo...

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Mais Poesias

(O que terminar a faculdade não faz...)

A última rosa, ou
boas vindas ao verão.

A última rosa do meu
jardim
morreu esta manhã.
Se botânico eu fosse,
diagnosticaria uma febre
terçã.

E, por ter sido cativado,
eu chorei!
Lágrimas rolaram pelo chão
regando em meu peito
a semente da
solidão.

Meus olhos embotados
cegaram meu coração;
que não percebeu
a promessa de vida
que vem com cada nova
estação.

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(sem nome)

Se tu afirmas que me ama
Eu finjo que acredito.
Isto piora minha sina
De ser teu poeta maldito.

Neste caminho triste;
Quanto sonho, quanta desilusão
Por crer num amor
Feito de vento e solidão.

As palavras que me dizes,
As vezes parecem tão ocas
E chego a duvidar
Que elas saíram de tua boca.

Eu gostaria de ter esperança;
De não questionar teu amor,
Mas quando me aproximo
Acabo afeito ao dissabor.

Porém meu destino sinistro
É o um eterno buscar
Para quem sabe um dia
No teu coração ter lugar.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Poesias

A primeira é para o meu leitor mais assíduo...

PANEGÍRICO

O Bruno é assim
Com sua moral argêntea
Nos ensina que hombridade
É total apreço pela verdade.

E com sua humildade
Podemos logo perceber que
As palmas não o envaidecem,
Nem os apupos o embrutecem

Se você é um dos seus amigos
Sabe o que estou dizendo,
Pois nos defende, se preciso, até morrendo.

E com ele não tem vida madrasta,
Pois aceitas seus revezes com esperança
Característica de quem tem fé, fé de criança...

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Está já foi publicada na II Antologia do Poetas Brasileiros Contemporâneos e no site http://www.camarabrasileira.com/alvaro.htm . Ela foi escrita em maio de 2002 um tempo feliz, mas foi para uma pessoa triste e confusa.

Sonhos

Do fundo do eu minh’alma canta;
Canta versos de tristeza e dor;
Pintados com cores fortes de amor
Para aquela que inspira e encanta.

Cândida em meus sonhos ela aparece;
Beija-me com sofreguidão e ternura.
Cena surrealista que um instante dura;
Flor-de-verão que quando nasce fenece.

Seus olhos em mim estão;
Refletindo dor, querendo ajuda;
Chora baixinho, as lágrimas brotam;
Tristeza inspira, queda-se muda.

Quero ajudá-la dando o que tenho;
Mataria dragões, não importa o empenho.
Para vê-la feliz tudo faria,
Mas acordo só na noite fria.

domingo, dezembro 17, 2006

Poesia

Se fecho os olhos
Ainda sinto
Tua irreal presença
Neste recinto

E nos meus lábios
Trago ainda o sabor
De teu beijo maculado
Dado sem ódio, ou amor.

Das marcas que tenho
As que eu gosto não foram impostas
São das tuas unhas carmesins
Em minhas costas

E dos amores que vivi
Lembrar nunca é demais
Que é, e sempre foi, de ti
Que eu gosto mais.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Amar-te

Amar-te é ferir-me;
É cravar uma adaga
No peito;
É ver meu grande sonho
Desfeito;
Sangramento que não se
Pode estancar.

É a dor
De uma sede que não
Sacia;
Um mal, uma doença
Que vicia;
È morrer sem
Expirar.

É mal-querer a mim
Mesmo;
É vagar, fugir, andar
A esmo
Procurando ao invés de
Conforto
Um novo
Penar.

É chorar todo dia
Vivendo sempre a mesma
Agonia
De não querer
Nada mais a não ser
Te amar.

terça-feira, dezembro 05, 2006

O Oleoso Guerreiro Contra o Dragão do Capitalismo - Parte III

Com o patrocínio vieram os eventos, as vernissages, os coquetéis, as inaugurações. Assim nosso amigo Oil Man virou figurinha fácil na Hight Society. Ele abriu o Cristal Fashion Week com um desfile de sungas novas para homens maduros e jovens descolados. Também estava na última festa do castelo do Batel e na inauguração do Burguer King do Shopping Muller. Foi ai que seus problemas começaram. Das colunas da tribuna nosso amigo foi para a coluna do Dino Almeida e seus antigos apoiadores, em geral universitários, hippies e um ou outro punk, passaram a odiá-lo. Quando do seu passeio matinal, Oil Man podia ouvir o buxicho (ou buchicho, ou buxixo, ou buchixo) das pessoas que o apontavam e o acusavam de vendido. Mas com a força de caráter que só os heróis têm, ele não ligava para os comentários.
Ele também começou a fazer apologia ao esporte. Abandonou o hábito de empurrar a bicicleta e passou a pedalar; começou a dar palestras nas escolas sobre os benefícios da prática de exercícios; e até perdeu a barriga de cerveja e ganhou uma de tanquinho.
O Plano diabólico estava dando certo.
A verdade é que a empresa que o patrocinava estava interessada em aumentar o número de pessoas que praticam esportes e, assim, aumentar a venda de seus produtos. Isto seria legítimo se não fosse por um detalhe: ESPORTE MATA!!!
Sim meus amigos leitores, ESPORTE MATA!!! Assim nos ensina o Doutor José Róiz, de saudosa memória. O homem não foi “projetado” para praticar esportes. Se assim fosse seriamos quadrúpedes e teríamos o coração com o dobro do tamanho. Mas a nossa condição de bípedes faz com que nossa circulação não consiga mandar sangue suficiente para o cérebro e para as pernas quando nos exercitamos, o que sobrecarrega o coração e cria a anomalia conhecida por “coração de atleta”, causa de inúmeras mortes, pois o coração fica excessivamente grande, de uma forma patológica, o que causa uma série de problemas. Sem contar toda a nova carga hormonal que nos faz envelhecer mais rapidamente... Mas porque ninguém divulga isto??? Oras, porque os esportes movem muito dinheiro na nossa sociedade e, se em Roma tínhamos o Panis et Circens, hoje nos temos o futebol e a cerveja. É o dragão do capitalismo que tudo devora e depois expele, por via retal, como mercadoria.
Mas voltando a nosso amigo....
A verdade é que com o tempo ele passou a contar com o apoio de uma elite curitibana (sabe... aquela que tem uma torneira de água e a outra de água oxigenada) e esqueceu o povo que sempre o apoiou. Foi assim que quando nosso amado Oil Man estava andando no centro da cidade, num fim de tarde primaveril, esbarrou numa turba ululante, composta de sem-terras, universitários e moradores de ruas. Estes estavam protestando por alguma coisa, mas quando viram nosso dileto herói começaram a gritar: “Vendido, vendido, vendido”; e passaram a persegui-lo. Oil Man tentou achar abrigo numa loja de grife, mas foi escorraçado de lá. Tentou pedir ajuda num shopping, mas os seguranças não o deixaram entrar. Ele tinha sido abandonado.
Oil Man começou a correr em sua bicicleta em busca de abrigo. Foi quando ele enveredou pela Cruz Machado e parou em frente ao “Pantera Negra”, vulgo “Gato Preto”. Para quem não conhece este lugar é uma mistura de Ledô com Madalosso; um ambiente medieval, pois só entra cavalheiros e dragões. Mas foi ai que ele se escondeu. Não adiantou. A turba ensandecida invadiu o lugar e o encurralaram num canto. Ele temeu por sua vida, mas resolveu encará-los de frente. Nosso amigo avançou contra a multidão como em berseker, pronto para matar ou morrer. Os revoltosos tentavam em vão agarrá-lo, mas ele escorregava graças ao óleo. Foi quando alguém lhe passou uma rasteira e outro lhe deu um “cavalo deitado” e ele caiu em cima de uma mesa estraçalhando-a. Era o seu fim...
Foi quando ao fundo tocou um violão e um “maluco beleza” entrou no lugar cantando. Era o Plá. Ele cantava assim: “Se Maomé não vai a montanha, então a montanha vai até Maomé... “ (isto repetido umas 32 vezes). Todos silenciaram. Plá aproveitou para falar com o Oil Man: “Aí bichto, faz um tempo que eu quero trocar um lero contigo. Larga dessa vida maluco. Nóis é tudo poloneis; nóis têm que batalhar contra o sistema tá ligado!?” Nosso amado herói começou a chorar, pois entendera o recado. Tinha que voltar a suas origens.
Tirou a sunga dos patrocinadores e vestiu uma samba canção de um dos garçons. Ia tirar o tênis também, afinal só podia entrar de sapato no recinto, mas o dono do lugar abriu uma exceção a todos naquele dia. O Plá voltou a tocar e o forró comeu solto no “Gato Preto”, ou “Pantera Negra” se preferirem. Os revoltosos e as “mariposas” do local começaram a dançar. A costela a role para todos. A Xingu também. E foi assim que o nosso amigo se redimiu da sua aventura pelo o mundo burguês, que no final o abandonou, e acordou nos braços da Rose Peluda, num quarto de luxo do Popp’s...