domingo, fevereiro 18, 2007

tú**, 18 de fevereiro de 17**

Caro Wilhelm

Tu não sabes quando dói a solidão do túmulo. O único som que escuto é o do vento por entre as castanheiras. As vezes alguns vermes vêem me visitar, mas não é companhia deles que anseio. Ah, minha alma ainda dilacera-se pedindo um pouco mais da presença de Charlotte; uma resga da sua atenção, da sua presença. Mas o meu purgatório é este; saber que depois de algum tempo ela já me esqueceu; que Albert suplantou-me em seu coração.
Mas sempre foi assim. Eu nunca fui mais que um brinquedo; uma distração agradável para as tardes chuvosas e as suas noites solitárias. Era apenas o amigo para o consolo, nunca há ser consolado. Eu sempre esperei apenas um sinal de seu amor, uma demonstração de afeição, mas só encontrei uma sanguessuga transmutada em amiga, alguém a esperando apenas receber, nunca dar.
Não morri com o tiro: morri com aquele beijo, que me elevou aos céus e mandou-me ao inferno logo depois. Foi o calor daqueles lábios que me abriu as portas da eternidade; foi a suavidade daquele instante que decretou minha condenação. Ah, esta mulher que nunca me amou, mas que sobe enganar muito bem para retirar tudo de mim. Talvez por não conseguir lhe negar nada ela se foi. Daria tudo a ela, mas ela não queria nada. Só queria uma amizade conveniente para se entreter. Fui apenas uma boa companhia, nunca uma hipótese de um amor. Esta constatação é que me matou. Apenas istoDesculpe-me pela brevidade desta carta. Um verme acaba de comer o meu dedo e não posso...