domingo, abril 29, 2007

Minha vida!

Falhei miseravelmente em fazê-la feliz...



Regra Três
(Vinicius de Moraes / Toquinho)
Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais
Da primeira vez ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar
Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar

sábado, abril 28, 2007

Poesias

duas, das antigas, e que têm a ver com a data de hoje (presente e passado)...


Andando só, sob o luar;
Triste e pensativo, o frio me aquecia;
Teu nome comecei a chamar,
Mas você não respondia.

Dei-me a sonhar, a divagações;
Comecei a pensar em você.
O que tem de bela e doce?
O que faz destruir os corações?

Ponho-me a escrever;
Para ver se você sente,
Compreende, passa a entender;
O quê em você me prende.

Não serão seus olhos de menina;
Não serão suas formas de mulher;
Não serão seus beijos de cajuína;
Não será este teu modo de querer.

Será tua alma incontrolável;
Teu modo de ser meio amalucado;
Teu modo de chorar; teu sorriso imaculado;
E por você ser, unicamente, inexplicável.

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Ela me lembra
uma das amigas da minha irmã
Mas não uma santa.

Ela me lembra
uma adolescente descobrindo a vida,
Mas não uma santa.

Ela me lembra
uma cortesã no exercício de seu oficio,
Mas não uma santa.

Ela me lembra
uma qualquer que ama, ri, chora,
Mas não uma santa.

Ela me lembra
uma mulher, uma menina, uma rapariga,
Mas não uma santa.

Talvez ela nunca tenha sido uma santa!

quarta-feira, abril 25, 2007

Poesia n° 4

Da coleção "Hebréia"

Tu me olhaste;
Parecia que não me conhecia.
Tristeza.
Amanhecia.

Te chamei e sorriste;
Te olhar me nutria.
Surpresa.
Meio-dia.

Ao meu lado caminhaste,
Meu coração por ti ardia.
Silêncio.
Entardecia.

De mim te aproximaste;
Minha boca te queria.
Lábios
Anoitecia

Durante a noite cavalgaste,
Com minhas carícias como açoite.
Luxúria.
Meia-noite.

Tu me abandonaste;
Tudo se perdia.
Tristeza.
Amanhecia .

sexta-feira, abril 20, 2007

Poesia Árabe (original)

Lendo um texto sobre a Arábia pré-islâmica, descobri que, em determinada época, um pouco antes de Maomé, os poetas eram os chefes tribais. E eles tinham uma disputa de poesias que substituía a guerra nos meses sagrados; e os vencedores tinham sua poesia escrita sobre seda com letras de ouro e eram colocados na Ka´ba. Isto faz-me pensar em como os poetas são desvalorizados em uma cultura, como a nossa, em que há uma banalização da informação e do saber e como eles (nós) eram importantes numa sociedade em que a forma de se preservar a memória era através da poesia. A poesia para os povos árabes, ainda tribais, tinha um caráter duplo: por um lado contar as façanhas heróicas da tribo e de seus guerreiros; e por outro tratavam o amor, muitas vezes não correspondido. Aqui vai uma mostra deste tipo de poesia:

Vi uma donzela cujos cabelos caem
Até o solo e são negros como a noite.
Debaixo de suas tranças escuras, se assemelha à aurora surgindo das trevas.
Es tão bela que todos a admiram
E se apressam em servi-la.
E eu ocultarei meu amor no fundo do meu coração
Até que me seja permitido revelar-lo.

Poesia n°3

Ela é tão delicada e suave que eu tenho até medo de tocá-la. e possui uma ciência, um olhar sério que por vezes me assusta. Ah, mas como o riso nasce fácil naqueles lábios e eu fico tão comovido quando é direcionado a mim. Depois de hoje não poderia fazer mais nada a não ser escrever:
(escrito em papel de pão)

Da coleção "Hebréia":

Se pudesse mais perto de ti chegar,
E fazer surgir em sua face o rubor;
Com insanas promessas arrebatar
Da tua boca um beijo com furor.

Não me olhes assim entediada,
Como quem já ouviu isto antes;
Numa chance deixarei-te extasiada
Contando-te meus sonhos, contigo, delirantes.

Ah, dê-me ao menos um sorriso,
Pois tua boca, de tal maneira, me encanta
Que ao chegar perto eu perco o ciso.

Quero ver se manténs-se séria e santa
Se como um corsário eu te atacar
Tocando a fonte, fazendo seus tesouros me entregar.

terça-feira, abril 17, 2007

Poesia

Queria ter algo para escrever;
algo que fizesse jus a sua beleza;
mas hoje as palavras fogem;
espero que perdoe esta indelicadeza.

é que te sinto tão perto,
que de ti fico repleto, assim
os meus versos saem tão incertos,
que não sei se são dedicados a ti ou a mim.

mas saiba que pensei em você;
a cada segundo, cada instante vão;
fingi que sobre você escrevia
e te entregava, na poesia, meu coração.

segunda-feira, abril 16, 2007

Noir

Ela tem um jeito ousado de se vestir que o fascina. Parece que ela foi sempre assim. Parece que sempre teve uma pena na orelha e unhas vermelhas. Mas ele descobriu que não é bem assim. Como a rosa do Pequeno Príncipe ela cultiva suas garras rubras para se defender do mundo, para se esconder de si mesma. E o ar liberal só esconde uma mini-réplica de Bárbara Bush.
No balcão do bar ele pede mais uma dose de rum e continua em silêncio. Não quer atrapalhar os pensamentos e a fala da moça ao lado, que mais parece uma chaminé. Ela está nervosa, passando por uma crise de autoconhecimento. É como uma borboleta saindo do casulo. Ele não pode fazer nada a não ser estar ali; ou mandá-la regular nos cigarros. Bom, ele prefere continuar só ouvindo-a falar sobre suas dúvidas vocacionais.
Ela termina sua bebida. Trocam olhares rapidamente. Ele se levanta, paga a conta, toca suavemente a sua mão e se dirigem ao estacionamento em silêncio.
Ele a leva em casa. Um prédio bonito, com muitos apartamentos. Observa-a por longos segundos. Continuam em silêncio. Não falam nada, pois mais nada precisa ser dito. Está tudo ali, numa insustentável leveza entre os dois. Ela sai, sem ao menos dizer adeus. Ele sabe o que se passa em sua cabeça e não ousa questioná-la. Apenas respeita, esperando o dia em que ela volte a ser ousada.
Ele parte, dirigindo apenas. No rádio um blues triste e longo toca. Seus pensamentos são agridoces. Só consegue pensar nos olhos dela. Como são belos e como escondem a tristeza. Aquele amêndoa, rajado, levemente, de verde sempre o persegue. Parecem que nasceram para refletir amor e paz, mas é o contrário que está lá. Ele não consegue acreditar nisso, mas esses olhos nunca mentiram antes, então por quê o fariam agora? Ele volta para o bar. Pede uma dose dupla de rum e pensa em tudo o que deixou de fazer; em cada oportunidade perdida. Ser mais arrojado talvez fosse a solução, mas ele prefere a segurança do poderia, do quê o incontestável do aconteceu. Valeu a pena? Só quem contemplou o fundo daquele olhar sabe a resposta...

terça-feira, abril 03, 2007

Visita

Ele se olha no espelho pendurado no canto do seu quarto-cozinha e pensa que deveria ter aparado a barba. Talvez cortado o cabelo também. Cheirou a camisa pendurada na cadeira e achou que deviria tê-la lavado. Na verdade ele achava que a sua vida precisava de ordem, de organização. Precisava retomar as rédeas, controlar as coisas. Na vitrola (ele ainda tinha uma) tocava o LP construção, do Chico, que ele havia encontrado num sebo. Arrumou as coisas em cima da mesa. Pôs duas xícaras, uns pãezinhos, uma rosa que havia roubado de algum jardim e foi esquentar a água para o chá. Queria que estivesse tudo pronto para quando ela chegasse. A campainha toca. É ela. Estava divina no seu vestido de primavera, os cabelos negros soltos e um nada de maquiagem. Ele pede que entre e que se sente. Ela recusa. Ele pergunta se ela gostaria de um pouco de chá. Ela diz que está com pressa. Ele oferece uns pãezinhos. Ele diz para acabarem logo o que têm que fazer. Ele concorda. Eles se abraçam e ela lhe dá um beijo vigoroso e demorado. É a melhor sensação da vida dele. Tudo gira e vai anuviando. Seu corpo está leve junto ao dela. Não sente mais nada. Dois dias depois a vizinha encontra o corpo do jovem senhor. Estava morto, fedendo e com um sorriso indefectível nos lábios...