terça-feira, maio 31, 2011

Os usos da História. Parte I

“Quem controla o Presente controla o Passado e quem controla o Passado controla o Futuro.”

George Orwell, 1984.

Lendo o jornal Gazeta do Povo de hoje, encontrei em sua página 14, uma notícia que me chamou a atenção. O presidente do Senado, José Ribamar Sarney (PMDB-AP, ou seria MA, ou seria...) reinaugurou “com pompa” o chamado “túnel do tempo”: uma galeria com os principais momentos da instituição, um lugar da memória. Interessante foi a seleção dos fatos que mereceriam estar em destaque, ou melhor, os “silêncios” sobre determinados assuntos como o impeachment de Collor, ou CPIs que “cortaram” na carne do Senado. Grandes temas, ou temas canônicos de nossa história aparecem, como a Abolição da Escravatura, ou o AI-5, mas o que me fez pensar foi a justificativa usada por Sarney para a escolha dos tópicos: “mas não é tão marcante como foram os fatos que aqui estão contados, que foram os que construíram a história, e não os que de certo modo não deviam ter acontecido.” Assim o presidente do Senado assumiu o papel de censor da História. O que “oficialmente” determina o que pode ser considerado História, ou não.

Analisando esse discurso podemos voltar a frase da epígrafe. O que importa não é o que aconteceu, mas o que “deve” ser lembrado: qual imagem que o presidente do Senado pretende deixar para o futuro. Não sabe o imortal senador que os “silêncios” às vezes falam mais altos a história do que o que propriamente é dito. Calar sobre o impeachment de Collor é uma forma de ressaltar o que, numa época de denúncias e escândalos, não deve ser lembrado: os brasileiros já tiraram do poder um presidente por causa da corrupção. É claro que ele não quer lembrar que a função do Legislativo é (ou já foi) a de fiscalizar o Executivo, pois senão o povo pode querer que eles façam isso, o que os deixaria em maus-lençóis com o governo.

Como historiador interessa-me (ou seria preocupa-me) o uso da história nesse episódio. Quem determina a história? Os historiadores? Não, o que faz a história é o uso que se faz dela. Ao negar isso, Sarney apenas reforçou o que não queria que fosse lembrado. Mas não podemos negar que ele aprendeu a lição do “Grande Irmão”: quem controla o presente controla o passado e quem controla o passado controla o futuro.

1 comentários:

Diego disse...

Temos medo.