segunda-feira, junho 05, 2006

Lolita

Lolita, luz da minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lolita: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.

Realizei uma das minhas ambições intelectuais: li Lolita do russo Vladmir Nabokov. O livro é muito bom, mas a parte que mais me toca é este começo, que em termos de narrativa e descrição é a melhor do livro. A história é fantástica e eu só a tinha visto na TV, num filme com o Lian Nelson (que, diga-se de passagem, fez meu personagem preferido, Jean Valjean, no cinema também) que é a versão mais recente. Mas, como todos sabem, adaptações de obras literárias para o cinema nunca ficam boas.
O livro, como é de conhecimento comum, fala das relações de um quarentão e de uma menina de doze anos. Por sempre ter sido tratado por imoral e por falar deste grande tabu que é a pedofilia, têm-se a impressão de que o livro vai ser cheio de passagens picantes e obscenas. Muito pelo contrário. O livro é sutil nesta parte e fala mais dos conflitos e das dores e amores do senhor Humbert Humbert.
Nabokov estava nos EUA quando escreveu Lolita, e fez questão de fazê-lo em inglês. Não é um livro que fale mal do “Anos Dourados” americano como podemos pensar depois de uma leitura mais rápida, mas com certeza retrata a decadência de uma sociedade do pós-guerra. Não pela pedofilia, já que o professor H.H. é europeu, mas pelo comportamento de todos os outros personagens que giram em volta de Lolita e seu padrasto. As meninas são todas depravadas e as mulheres de idade também. Os homens são pusilânimes e, mesmo suspeitando que professor Humbert abuse de Dolores Haze, nunca tomam atitudes.
O livro é muito bom e vale a pena ser lido. Não porque é um dos clássicos da literatura mundial, mas porque é muito bem escrito. Sobre o tema (pedofilia), o autor diz que foi escolhido para chocar a sociedade americana da época (tanto que o livro foi publicado primeiro na França). Os outros dois temas que ele diz que também chocariam e que ele cogitou: um branco casando com uma negra (ou vice-versa) e tendo filhos e netos e vivendo felizes; ou ao ateu incorrigível que leva uma vida útil, feliz e produtiva e não carrega remorsos. Olhando de longe, estes temas continuam sendo tabus não só nos EUA como em boa parte do mundo!

6 comentários:

Anônimo disse...

Sabe que eu sempre tive vontade de ler esse? Depois dessas recomendação, vou me agilizar.

Mas eu estou realizando outra meta intelectual minha: ler o Ulisses, do Joyce. Eita livrinho pesado, rapaz, mas estou vencendo aos pouquinhos.

Anônimo disse...

Nunca tive a curiosidade de ler esse livro, e embora eu tenha gostado do que vc escreveu (como sempre, aliás) confesso que ele não vai assumir as primeiras posições da minha lista (mas já está nela, o que é um avanço).
Mas uma coisa é certa. Seu post me fez sentir saudades de ler. Não de ler a Ilíada, a Odisséia, ou Novas Tendências da Análise do Discurso, mas de ler um livro por prazer, de sentar no sofá com um livro e só levantar quando as letrinhas estiverem ficando embaralhadas (é quando eu sei que já li demais por um dia).
Acho que não vou pra aula hoje e vou ficar em casa lendo.
Brincadeira, não precisa brigar comigo! Eu vou pra aula, e leio na volta :)

Anônimo disse...

Ulisses eu tenho medo de ler. Já tentei mais não desenvolve. Dizem que Finningans qualquer coisa é melhor. Não sei.

Para Ana: recomendo "o caçador de pipas" que me foi recomendado pelo elfo e que já me tirou algumas lágrimas.

Anônimo disse...

ja li lolita e assino embaixo pra sinopse do nosso grande amigo. recomendadissimo!

Anônimo disse...

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