sábado, março 31, 2007

Diálagos

Sr Sensocomum
- Pois você tem acompanhado os casos de violência no Brasil? Estamos enfrentando uma verdadeira guerra civil...

Sr Boldmind
- Não sei. Acho que padecemos do mal do século: excesso de informação...

Sr Sensocomum
- Como assim??? Você agora quer negar que estamos em combate contra os traficantes e que, a cada dia que passa, eles ficam mais ousados e violentos???

Sr Boldmind
- Não, na verdade acho que a violência sempre existiu, mas haviam lugares aceitos para ela. Por exemplo as favelas, os subúrbios. Lugares longes de nossos olhos. Agora a violência transbordou estes lugares e esta chegando mais perto de nós, classe média, e isto nos assusta. Mas o medo é muito mais que isto. Ele nos é entregue como uma mercadoria pronta para consumo. Virou mais uma indústria.

Sr S
- Você quer me convencer que a violência não existe e que o medo é apenas uma construção?

Sr B
- Não quero te convencer de nada meu caro amigo e nem disse que a violência não existe. Pelo contrário, talvez ela seja a coisa mais real na vida em sociedade. O que são as leis se não meios de nos defendermos uns dos outros? A civilização é apenas um conceito que perseguimos, mas nunca vamos alcançar. Uma história da carochinha para adultos é a idéia de que podemos ser civilizados sem a força da lei para nos controlar. O que eu realmente disse é que o medo gerado pela violência foi construído para o bem de alguém que não o nosso. Estão fazendo parecer que a violência está em todo lugar para nos assustar e, assim, alguém lucrar com isto. Ou não percebeu que o JN está a cada dia mais parecido com o antigo programa do Alborguetti?


Sr S
- É verdade. Os jornais estão mais violentos, mas foi a sociedade que piorou. Você vê cada caso de assassinato brutal hoje em dia que dá até um ruim...

Sr B
- Sim, mas estes casos de violência isolados nunca foram notícia. Pessoas sempre morreram de formas estúpidas e violentas, mas antes ninguém fazia alarde sobre isto. A questão é que nada hoje em dia é notícia e por isto tudo vira notícia. E isto com a finalidade de preencher um apetite infantil de nossa parte por informação.

Sr S
- Certo, mas esquecendo isto, o que você acha do envolvimento cada vez maior de menores nos crimes que vemos? Não sei. Na minha época parecia ser tudo melhor e mais calmo, mas hoje em dia está tudo virado. Crianças de 12 anos se envolvendo em crimes hediondos. Não dá nem para andar sossegado na rua que já vem a pivetaiada te roubar.

Sr B
- Eu sei que, terminantemente, me recuso a ter medo de crianças!

Sr S
- Hein!? Você quer dizer que não acha que os adolescentes estão cada vez piores? Que eles vêem das favelas só para nos assaltar? Só falta me dizer que também é contra a redução da maioridade penal!

Sr B

- Não sou contra redução da maioridade penal. Sou é a favor da criação de igualdade de oportunidades entre estes adolescentes e os nossos. A redução da maioridade penal tem que vir acompanhada de medidas que não deixe os jovens enveredarem pelo caminho do tráfico e da violência. Talvez assim ela nem seja necessária. E não se esqueça: se estes jovens hoje são violentas é porquê eles sofreram uma violência da nossa parte primeiro. Eles não precisam de condenação porquê já nasceram condenados a viver esta vida.

Sr S

- É, nisso concordamos: também acho que é pela educação que poderemos resgatar estes jovens.

Sr B
- Não criatura, não foi isto que eu disse. Igualdade de oportunidades não é só educação. É uma divisão mais justa do nosso PIB. Não sei quem foi o idiota que criou a idéia de que a educação tem este papel de salvadora do mundo. Pois desse jeito parece que ela é causadora de todos os males também. Lógico que ela é uma peça importante, mas não é a única.. È só comparar. Você fale em educação e eu em igualdade de oportunidades. Oras, se fosse só pela educação dois jovens que terminassem o ensino médio juntos, mas um em escola particular e outro em escola pública, teriam as mesmas chances dentro do mercado de trabalho. Ledo engano. Eles precisam partilhar das mesmas oportunidades, o que a educação sozinha não alcança. È um caminho insuficiente. Quem compra esta idéia está mais preocupado em maquiar o problema e não resolvê-lo. È mais fácil jogar um jovem 4 horas por dia numa escola do que garantir a ele meios de viver de maneira digna.

Sr S
- O que podemos fazer então?

Sr B
- primeiro não comprar a idéia de que devemos temer tudo o que é diferente. Depois precisamos resgatar a dignidade das pessoas que vivem na pobreza, com a garantia de uma renda mínima mesmo quando ela está desempregada. Garantir um futuro de verdade aos jovens e não apenas sub-empregos em lanchonetes, ou fazendo bicos. E por fim devemos nos preocupar realmente em resolver a questão e não só despejar a resposta pronta de que é pela educação que as coisas vão melhorar. Pois quando empregarmos um mínimo das nossas forças nesta busca por soluções o problema já não existirá; ele simplesmente se resolverá.

1 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes eu me irrito com os srs. Sensocomum. O sujeito lê a Veja e assiste o JN e sai dando de pedante por aí, apontando o dedo e disparando teorias à la Diego Mainardi.

Na verdade o que querem é culpar governo, educação e outros chavões do tipo para se redimirem da própria parcela de culpa que têm. Se bem que eles não têm nem consciência da culpa que têm nisso tudo, o que é pior.

Concordo com o sr. Boldmind, e fico com o Thomas More: a sociedade cria os bandidos para depois ter o prazer de enforcá-los.