terça-feira, abril 03, 2007

Visita

Ele se olha no espelho pendurado no canto do seu quarto-cozinha e pensa que deveria ter aparado a barba. Talvez cortado o cabelo também. Cheirou a camisa pendurada na cadeira e achou que deviria tê-la lavado. Na verdade ele achava que a sua vida precisava de ordem, de organização. Precisava retomar as rédeas, controlar as coisas. Na vitrola (ele ainda tinha uma) tocava o LP construção, do Chico, que ele havia encontrado num sebo. Arrumou as coisas em cima da mesa. Pôs duas xícaras, uns pãezinhos, uma rosa que havia roubado de algum jardim e foi esquentar a água para o chá. Queria que estivesse tudo pronto para quando ela chegasse. A campainha toca. É ela. Estava divina no seu vestido de primavera, os cabelos negros soltos e um nada de maquiagem. Ele pede que entre e que se sente. Ela recusa. Ele pergunta se ela gostaria de um pouco de chá. Ela diz que está com pressa. Ele oferece uns pãezinhos. Ele diz para acabarem logo o que têm que fazer. Ele concorda. Eles se abraçam e ela lhe dá um beijo vigoroso e demorado. É a melhor sensação da vida dele. Tudo gira e vai anuviando. Seu corpo está leve junto ao dela. Não sente mais nada. Dois dias depois a vizinha encontra o corpo do jovem senhor. Estava morto, fedendo e com um sorriso indefectível nos lábios...

3 comentários:

Anônimo disse...

Ui, que medo. Era a dona Morte?

Gostei muito deste, mestre! Pelo visto, retomamos o blog, hein?

Monize disse...

Puxa... sem comentários mocinho...
gostei do vestido de primavera...

escrevi algo... de uma olhada depois...

uma beijoca!!

Aline Ribeiro disse...

Caraca, que desfecho heim?!
Amo esses contos!
Vou te linkar no meu blog, posso?
Bjnhos...