quarta-feira, maio 02, 2007

A vida tem dessas coisas.

Ele

Antônio era um homem tranqüilo. De compleição fraca, procurava não se preocupar muito com as coisas que o rodavam. Era marceneiro de profissão e trabalhava sozinho num galpão alugado. Fazia móveis, portas, janelas e brinquedos. Se bem que ninguém mais comprava brinquedos de madeira, mas ele os continuava fazendo. Não tinha muitos amigos, não freqüentava bares e não saía a noite. Chegava em casa, religiosamente, às 19hs, preparava sua janta, pois morava sozinho, e ia dormir logo após o jornal. Aos domingos passeava no parque perto de sua casa. Gostava de andar descalço pela grama e se sentar embaixo de uma árvore e para ver as pessoas passeando com suas famílias. Foi num desses passeios que conheceu Sílvia.

Ela.

Silvia era uma moça tímida e muito quieta. Ninguém sabe ao certo como os dois começaram a namorar. Ela sempre passeava com a irmã e os sobrinhos no parque e via aquele jovem senhor sentado ali, triste e solitário que dava dó. Parece que num domingo desses, ela se sentou ao lado dele e pegou-lhe a mão. Talvez tenha sido pena de vê-lo assim tão sozinho, ou então uma paixão repentina; não importa: eles começaram a namorar e três meses depois eles se casaram.

O Casamento.


A festa foi bem simples, na casa dos pais da noiva e para uns poucos convidados. Um padre amigo da família oficiou o casamento. Não viajaram em lua-de-mel. Ela simplesmente levou suas poucas roupas para a casa de Antônio e deu um jeito de arrumar o lugar, deixando-o um pouco mais confortável. Sílvia passou a trabalhar de diarista durante meio período e no resto do dia cuidava da casa. Agora Antônio já encontrava a janta pronta quando chegava em casa e passou a dormir depois da novela, para esperar a esposa. Aos domingos os dois iam ao parque depois do almoço e ao entardecer ela ia visitar a família e ele ia para um bar jogar dominó com uns primos de sua mulher. Foi no bar que ele conheceu Vanger, conhecida como Vandeca furacão.

A outra.

Vandeca furacão era o terror das esposas do bairro. Uma morena exuberante, que ia para o Rio de Janeiro desfilar em escola de samba e vivia no bar em meio aos homens, não se importando com os comentários das outras. Antônio ficou, como os demais, embasbacado com a espontaneidade e a beleza de Vandeca e por uma dessas ironias da vida, e a vida tem dessas coisas, ela também ficou interessada por ele. Passou a jogar dominó também para sentar-se ao lado de Antônio e encostar-se em sua perna. Por vezes se debruçava sobre a mesa e deixava transparecer o seu decote que ia até o umbigo. Ao final, tantas fez que conquistou o pobre do rapaz. Viraram amantes e ela ia todos os dias a sua oficina para encontrá-lo. Passaram dois meses desta maneira: todas as tardes, lá pelas 17hs, Antônio fechava o galpão e esperava Vandeca, com quem ficava até o final do seu expediente.


A briga.

Nestes dois meses todo o bairro já sabia do caso dos dois, inclusive Sílvia. Ela se fazia de boba, para não sofrer, mas no fundo sabia o que estava acontecendo. Foi um dia, Antônio chegou em casa e não encontrou a janta pronta. Ouviu barulho de choro no quarto e foi ver o que estava acontecendo. Sílvia estava com as mãos sobre o rosto e chorava copiosamente. Antônio quis saber o que aconteceu e recebeu de Silvia a resposta junto com uma metralhadora de palavrões. O resumo da ópera era que Vandeca tinha passado a tarde em frente à casa deles, anunciando para todo mundo onde ia e o que ia fazer. Sílvia não podia agüentar. Não agora que estava grávida. Antônio ficou mudo, mas sabia como ia resolver tudo. No outro dia Antônio carregou a mulher até o galpão e ficou trancado com ela até Vandeca chegar. Estava com um revolver calibre trinta e oito, que não serve para mais nada a não ser matar pessoas, que recebeu como pagamento de um serviço. As 17hs, a outra chegou e encontrou os dois quietos, esperando. Ficou muda também. Antônio mandou-a se sentar e começou a andar pelo galpão. Alguns vizinhos descobriram o que estava acontecendo e chamaram a polícia. Quando os guardas chegaram e cercaram o galpão tudo já tinha acabado. Pouco antes os vizinhos escutaram um disparo e correram para ver. No chão estava Antônio, com um tiro na cabeça e a arma na mão. Suicidou-se. E não o fez sem antes dar um demorado beijo na esposa jurando que só a ela amava. No galpão apenas Vandeca chorava. Sílvia estava firme, olhando com pena para o seu marido e para a outra. Ela ao menos sabia o que era ter sido amada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pára de escrever histórias tristes de amor que eu estou carente.

Um dia eu apareço na sua casa pra você me consolar e quero ver se você agüenta o rojão.

Professor disse...

vi esta história na Tribuna e adaptei para crônica...