domingo, maio 06, 2007

Manual do Revolucionário Moderno

(reeditado do inhamefilosofante antigo)

Hobsbawn diz que estamos passando por uma crise de utopias. Concordo com ele. As pessoas não vêem mais sentido em mobilizações, marchas (sejam elas “com Deus, pela propriedade e a Família”, ou pela reforma agrária) – desconsidero a dos MGLTS que não passam de um grande carnaval – abaixo-assinados, boicotes e até mesmo a simples e compreensível indignação frente à corrupção por exemplo. Ninguém mais acredita nos grandes ideais, ou nas grandes causas. Não existem mais grandes causas. Por conta disso resolvi deixar este pequeno legado para as gerações futuras, para que não pensem que o pessoal que nasceu nos anos 1980 e 1990 era uma grande massa uniforme e alienada.

Primeiro ponto.
Seja um obeso ou esquelético.
Numa sociedade de culto ao corpo estar em uma dessas categorias configura-se um grande ato de revolta. O importante é estar desalinhado com o padrão de beleza imposto pela sociedade moderna. Nada de corpos que lembrem uma escultura de Michelangelo (desculpem-me as pessoas que cultivam o corpo, comparar estas maravilhas criadas nas academias com obras feitas com pedra e cinzel é muita grosseria da minha parte), mas que pareçam caricaturas mal feitas como símbolos da resistência a nova ordem. Ao invés de barrigas de tanquinho uma barriga de cerveja com estrias roxas por toda parte. Ao invés de músculos saltando pelas roupas, ossos bem definidos sobre a pele. O revolucionário moderno tem que compreender que deve usar seu corpo como uma arma contra o modelo de sociedade vigente; como forma de resistência política àqueles que nos querem tornar em um grande exército de barbies e kens.

Ponto B.
Leia os clássicos.
Abomine livros de auto-ajuda e best sellers (tirando a Bíblia e os do LFV, que não têm culpa de venderem bem). Os que aparecem em listas como a da “Veja”, “Gazeta do Povo”, ou que o autor aparece na ilha de Caras devem ser completamente ignorados, salvo para tirar sarro. Leia os clássicos, de preferência em sua língua original. Leia Platão, Shakespeare, Goethe, Nietzsche, Sartre, todos os românticos franceses. Despreze os Browns e os Johnson da vida. Despreze ainda mais os que fazem cópias baratas destes autores. Se alguém perguntar se você leu o “Qualquer coisa do Graal” ou o “Quem mexeu no meu...?” (complete com o que desejar) diga que você esta lendo a “Montanha Mágica” do Thomas Mann, ou “Os Miseráveis” em francês. Um revolucionário tem que ter um cabedal respeitável de cultura. Como alguém quer construir uma nova sociedade se nunca leu “A República” de Platão?

Item 3.
Fuja da mediocridade/vulgaridade.
Corra da mediocridade como o diabo da cruz. Conheça as coisas não só de ouvir falar. Não seja um papagaio de pirata. Se quiserem que você dê sua opinião abalizada sobre algum assunto não repita as baboseiras do Arnaldo Jabor, ou de qualquer comentarista da Globo. Fuja do “óbvio ululante” que ronda as mentes atuais. Informe-se. Isto fará com que ganhemos a guerra.

Quarto Mandamento.
Seja politicamente incorreto.
Uma pessoa que não enxerga é cego, cegueta. Uma pessoa que gosta de homem (e não é mulher) é bicha, viadinho, baitola; assim como mulher que gosta de mulher é sapatão, sapata, cola velcro. Uma pessoa de cor é negra. Alguém que não anda direito é manco. Nada de deficiente visual, homossexual, afro-descendente ou deficiente físico. Esta histeria do “politicamente correto” está minando as bases da sociedade. Se chamassem o Dr Luther King de afro-descendente ele nunca teria começado o movimento que angariou vários direitos aos negros norte-americanos. Eles querem fazer de cada pessoa um “Big brother” (do Orwell, não dá Globo. Dúvidas? volte ao ponto B); um alcagüete; um dedo-duro. Todos se policiando e se culpando torna-nos mais fáceis de sermos controlados. Assim nada sai dos eixos, porque ninguém vai emitir sua opinião em público com medo das represálias dos seus pares. Ensinar os filhos a cantar “Atirei o pau no gato” é o grande legado para as gerações vindouras. È a base do “politicamente incorreto”. Sem contar que uma criancinha fazendo apologia à violência causará horror a toda trupe ensandecida e vigilante do “politicamente correto”.

Mais alguns conselhos.
- Os revolucionários modernos devem abominar Che Guevara, porque ele virou fashion. Amem o Fidel, que não está na moda e lutou pelos mesmos ideais do “Che” (e que, segundo Sartre, ensinou o argentino o que ele sabia sobre revolução). Nada de camisetas da C&A com a foto do cabrón. Faça uma em casa e use-a!
- Piercing era o máximo da rebeldia nos idos anos 80. Agora 10 entre 10 modelos do Fashion Week usam. Um piercing íntimo pode ser uma saída.
- Assista TV Senado e TV Câmara ao invés de Globo e SBT.
- Não use roupas de marcas, nem compradas em grandes magazines. Melhor: não use nada. Não seja um “rebelde sem causa”, mas um “rebelde sem calças” como diria o poeta.
- O mundo moderno costuma transformar todos os símbolos de rebeldia em mercadoria e os comercializar, por isto é importante que o Revolucionário moderno seja uma “Metamorfose Ambulante”, como diria Raul (que também já caiu nas graças da burguesia), e que, acima de tudo, não seja consumista.
- Finalmente o revolucionário de nossos dias deve amar tudo o que é kitsh, mesmo não sabendo o que é isto direito (e o medo de cair no mau gosto!?)


Você não precisa seguir todos esses conselhos. Com certeza seguindo-os você não mudará o mundo. Mas crer, propagar e praticar pelo menos um deles tornará o mundo um lugar menos idiota para se viver...

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, mestre. Pena que os autoproclamados revolucionários de hoje sejam tão medíocres.

(E isso me lembrou de que tenho que ler A montanha mágica...)

Malkaviano disse...

eu lembro de tr lido o antigo, gosto bastante do texto, mas acho que acima de tudo é:

Não siga regras, apenas seja feliz e tente fazer disso aqui um mundo melhor.

Ei mas isso já não são duas regras???

xi então fudeu tudo...

THIAGO ARTE disse...

Exelente síntese... utópica, mas necessário para não cairmos na mesmisse da massa alienada.

Anônimo disse...

otimo texto ... existem poucas coisas que valem a pena ler hoje em dia ...